sexta-feira, 10 de abril de 2009

"Frankenstein", de Mary Shelley

A obra "Frankenstein", da inglesa Mary Shelley, é considerada a primeira obra de ficção científica, gênero literário que se volta para o mundo da ciência. Nesta obra, faz-se uma crítica à ambição científica.

Escrita em 1818, representa o gênero gótico de romances que marcou a segunda metade do século XVIII na Inglaterra. Mary Shelley condena o cientista ambicioso e critica a Ciência que deflagrou a sede de Victor Frankestein. Victor considerava a matemática e os conhecimentos a ela relacionados como uma base segura, da qual não poderia advir mal nenhum. Shelley critica essa fé cega na suposta neutralidade da Ciência.

Uma noite, ao testemunhar a destruição de um carvalho por um poderoso raio, o jovem Victor passa, através da explicação de um especialista, a tomar conhecimento da eletricidade. Após esse episódio, ele abandona os estudos aos quais vinha se dedicando, e assim narra tal mudança:
...abandonei de pronto as minhas prévias ocupações; desembaracei-me da história natural e toda a sua gênese, como se fossem criaturas disformes e abortivas ... . Nesse estado de espírito, eu me dediquei à matemática e aos ramos de estudo dela derivados, por estarem apoiados em sólidos alicerces e, portanto, serem dignos de minha consideração.
...Em retrospecto, me parece que esta mudança quase milagrosa em minha inclinação e vontade foi sugestão imediata do meu anjo da guarda — o último esforço do espírito de preservação para impedir a tormenta que mesmo naquele momento formava-se nos céus, pronta para me atingir. ... mas foi em vão. O destino era por demais potente, e as suas leis imutáveis haviam decretado minha mais absoluta destruição
(Shelley, 1982, p. 239).

Não se pode deixar de lembrar que, em Frankenstein, as mulheres são absolutamente passivas e se deixam destruir sem resistência pela ambição masculina. Ocorre um embate do desejo de auto-afirmação e autonomia masculina com a necessidade feminina de construir relações, onde o primeiro aspecto destrói o segundo.

Em Frankenstein, a atribuição da esfera intelectual, ou racional, a Victor, e da sentimental a Elizabeth, está clara no trecho onde o protagonista compara seu temperamento, quando criança, ao da futura noiva:
Eu era mais calmo e filosófico que minha companheira; meu temperamento, no entanto, não era tão flexível. ... Eu me deliciava na investigação dos fatos relacionados ao mundo real; ela se ocupava seguindo as criações aéreas dos poetas. O mundo era, para mim, um segredo, que eu desejava desvendar; para ela era um vácuo, que procurava povoar com seus próprios devaneios imaginários" (Shelley, 1982, p. 30).

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