quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

And so this is Christmas...

So this is Christmas
And what have you done
Another year over
And a new one just begun
And so this is Christmas
I hope you have fun The near and the dear ones
The old and the young
A very merry Christmas
And a happy New Year
Let's hope it's a good one
Without any fear
And so this is Christmas (...)

("Merry Christmas" ["Was is over"], John Lennon)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Se...


(Um poema de Rudyard Kipling)

Se és capaz de manter tua calma, quando todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,e para esses no entanto achar uma desculpa.
Se és capaz de esperar sem te desesperares,ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,e não parecer bom demais, nem pretensioso.
Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires tratar da mesma forma a esses dois impostores
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas, e refazê-las com o bem pouco que te reste
Se és capaz de arriscar numa única parada, tudo quanto ganhaste em toda a tua vida
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada, resignado, tornar ao ponto de partida
De forçar coração, nervos, músculos, tudo, a dar seja o que for que neles ainda existe
E a persistir assim quando, exausto, contudo, resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes, e, entre Reis, não perder a naturalidade
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes, se a todos podes ser de alguma utilidade
Se és capaz de dar, segundo por segundo, ao minuto fatal todo valor e brilho
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo, e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!

domingo, 14 de dezembro de 2008


"A memória é algo cheio de truques e esquecer significa, freqüentemente, o meio pelo qual a mente se defende contra dores passadas e remorsos por oportunidades perdidas"
(Irwin Shaw)

"O pobre homem rico" - Irwin Shaw

A saga da família Jordache, construída a partir de Axel Jordache, alemão que mudou-se para os EUA, depois de ser ferido da guerra e Mary, menina criada em um orfanato de freiras, sem conhecimento de quem seriam os seus pais verdadeiros. Os filhos Gretchen, Rudolph e Thomas, frutos de uma união instável, formam-se perdidos em seus mundos, soltos, sem referência de lar ou amor fraternal e familiar.
Todas as expectativas dos pais concentraram-se em
Rudolph, o filho que, segundo eles, daria o sucesso e a alegria que esperavam. Com essa especial atenção, o personagem ambicioso, vaidoso, mesmo contido em suas emoções e atitudes, estrutura-se e se auto-constrói para agradar e bem apresentar-se e, com isso, conseguir seu milhão almejado.
Gretchen, percebendo que com sua beleza poderia ser capaz de conseguir uma vida melhor, sede à febre das tentações, entregando-se ao milionário Teddy Boylan, personagem que tem um papel fundamental na trama, até quase seu final. Com Boylan, dá-se início a formação intelectual e personalidade de Gretchen.
Thomas, entregue a si próprio, tem apenas seus punhos, a tendência às brigas, o prazer que sente com elas, mostra a capacidade de mudança que pode-se conseguir, aprendendo com as próprias experiências e misérias que vive.
A trama dos
Jordache passa-se entre 1945 e 1968, mostrando um retrato político da época da II Grande Guerra, e seu pós. Os caminhos que percorrem cada personagem, num livro que nos dá uma deliciosa leitura com estrutura descritiva de lugares bem feita, época e perfis psicológicos bem trabalhados, mostra-nos que as escolhas que fazemos traçam os rumos serão dados e que sem sempre as escolhas mais fáceis podem ser as certas.
Vemos, nesse trilhar dos Jordache, o alcoolismo, carência, revolta, solidão, ganância, ambição, traição, amores perdidos, perdão, luxúria...
Boa dica de leitura, para alguém que procura um livro-novela, bem escrito de fácil entendimento.
O livro foi adaptado para um seriado televisivo na década de 70.
Shaw dá continuidade à saga dos Jordache em "A vida segue".


Link para download: não encontrado.

sábado, 13 de dezembro de 2008

De Erich Fromm

"A principal missão do homem, na vida, é dar luz a si mesmo e tornar-se aquilo que ele é potencialmente."

(Erich Fromm)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

"O encontro das águas =crônica irreverente de uma cidade tropical" - Fernando Sabino


Crônica escrita por Sabino em 1976, construída em cima de uma viagem que faz a Manaus, onde o personagem Eduardo Marciano detalha as impressões sobre a cidade, suas construções, comércio, história. Descritivo, faz-nos ter a sensação que também viajamos pela cidade e nos deixa, por um lado, a nostalgia de querer conhecer o lugar, e, por outro, parece que descreve nossa própria metrópole, pelas semelhanças no crescimento mal planejado, nos monumentos históricos abandonados, nos mercados abarrotados, na miséria escondida.
Vale a pena ser lido, por tratar-se de uma obra de Fernando Sabino, mas quem não gosta de livros descritivos, não aconselho.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

"Relações perigosas" - Choderlos de Laclos

Um romance diferente em sua construção. Trata-se de uma reunião de cartas, cronologicamente encaixadas, que dá sentido ao texto, revelando os personagens, as armadilhas, os pensamentos velados, os interesses, vingança, sentimentos nobres e outros não tanto.
O Visconde de Valmont e a Marquesa de Merteuil são os personagens que traçam a teia da intriga, construindo um cenário em benefício próprio, seus prazeres e manipulações de condutas humanas, sendo responsáveis pelo destino dos demais que se afiguram no romance.
Fala da ingenuidade construída pela educação severa obtida em conventos, da expiação pela culpa, da entrega à paixão sem limites, da crueza do espírito humano em seu egoísmo.
A paixão que o Visconde de Valmont simula para seduzir a Presidenta de Tourvel; a situação criada pela Marquesa de Merteuil para vingar-se de seu amante, tirando a ingenuidade de sua esposa prometida, a ingênua Cécile Volanges; a sedução pela sedução, além da infidelidade e devassidão de uma sociedade da época, corrompida pela embriaguez da luxúria, na França, prestes à eclosão da Revolução Francesa...
Um livro que nos deixa um pensamento em que o maquiavelismo pode ser encontrado em qualquer lugar, em qualquer humano, disfarçado, escondido e, talvez, nunca seja percebido.
Pela Marquesa de Merteuil, Laclos nos mostra como se construiu o espírito da personagem de forma magnânima, com estudos, observações, auto-disciplina.
Vale a pena conferir o romance.

Frases:
"A razão, já tão insuficiente para prevenir as nossas infelicidades, ainda mais o é para nos consolar delas"

"O amor é, como a medicina, apenas a arte de ajudar a Natureza"

"
[A] miséria adquire valor na medida das privações que experimentamos. São as migalhas de pão caídas da mesa do rico: este as despreza, mas o pobre as recolhe avidamente e dela se nutre "


segunda-feira, 6 de outubro de 2008

"O advogado do diabo" - Morris West

Blaise Meredith,clérigo, descobre que possui pouco tempo de vida, devido um carcinoma no estômago. Apesar da doença, é designado pela Igreja para investigar o processo de beatificação de Giacomo Nerone, morto 15 anos atrás, na Calábria-Itália, um personagem misterioso, com passado obscuro, tendo como desafio descortinar a estória, depondo como Advogado do Diabo, para construção de pontos de vista que deponham contra a beatificação, descobrir as razões do culto à memoria e analisar os milagres a ele atribuídos. Em meio às descobertas com os que conviveram com Nerone, vê-se num emaranhado de intrigas, inveja, maquiavelismo.
A fé coloca à prova pelo personagem, tendo a morte como provocação de reflexões dos próprios ideais, das ideologias seguidas, da vida dedicada ao Vaticano, solitária, vista ao seu final, deparando-se com realidades escusas da Igreja, revendo conceitos e paradigmas.
Um final que surpreende, um livro que vale ser lido.

Frases:
"Na incredulidade, não existe pai, não existe relação. A gente não vem de parte alguma, não vai para parte alguma. Nossos atos mais nobres são destituídos de significado."

"Não é novidade alguma a gente ser solitário. Isso ocorre com todos, mais cedo ou mais tarde. Os amigos morrem, os membros de nossa família morrem. Amantes e maridos também. Ficamos velhos, doentes. A última e a maior solidão é a morte."

"Sinto a vida escoando-se de mim. Quando vem a dor, choro, mas não existe prece em meu pranto. Somente medo."

domingo, 21 de setembro de 2008

"Inveja" - Sandra Brown

Um livro de suspense, fácil leitura, que prende pelo malabarismo da autora em fazer pontes do irreal, que seria um romance escrito por um escritor misterioso, a própria estória desse e a ligação com os demais personagens.
Maris Martherly-Reed, editora, interessa-se pelo manuscrito enviado a ela e vai à procura do autor para comprar e publicar o livro que tem como título "Inveja", recluso em uma ilha na Geórgia.
Como um drama, quase um quebra-cabeças sendo montado, não se consegue parar de ler, tal como um romance policial.
Inveja, amor, ódio, vingança, ganância... São temas que fazem do livro.
Do enredo do livro, deixamos apenas esses breves comentários, para que não se perca a sensação de suspense que ele dá.

Download: [Não encontrado... infelizmente.]

"O testamento" - John Grisham

Herdeiros de uma imensa fortuna, lutando pela contestação do testamento de TroyPhelan, milionário que deixa seus bens a uma filha ilegítima, que todos os outros filhos e esposas desconheciam.
Inicialmente narrado em primeira pessoa por Phelan, até o seu suicídio, ato cometido logo depois de assinar o último e polêmico testamento.
Passando pela ganância dos advogados e herdeiros endividados, o livro também envereda pelo mundo do vício, do alcoolismo e da luta de um dos personagens, NateRiley, em manter-se "limpo".
Riley é o advogado que vai à procura da herdeira Rachel Lane, da qual sabe-se, além do nome, tratar-se de uma missionária que presta serviços em uma aldeia indígena no Estado do Mato Grosso, Brasil.
Da aventura de O´Riley nessa busca, sua crença em Deus é fortalecida, dando novos rumos a sua vida.
A descrição física da maioria dos personagens fica em suspenso pelo autor, recurso reservado a alguns poucos e secundários, não principais. Foca principalmente na ambição, cobiça, num mundo onde o dinheiro é a mola que impulsiona a maioria dos que fazem parte da trama de Grisham.

Download: "O testamento" - John Grisham

sábado, 13 de setembro de 2008

De Galileu

"Não me sinto obrigado a acreditar que o mesmo Deus que nos dotou de sentidos, razão e intelecto, pretenda que não os utilizemos."
(Galileu Galilei)

sábado, 6 de setembro de 2008




"Não mais representar o visível, mas tornar visível"

(Paul Klee)

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

"O apanhador no campo de centeio" - J.D.Salinger

Um fim-de-semana na vida de um adolescente Holden Caulfield, que, após reprovação nas matérias do internato que estuda, reluta na volta para casa, andando a sem rumo por NewYork, às vésperas do natal. Nesse tempo, o vazio e os pensamentos simplistas do personagens, narrados de forma a mostrar a visão de mundo sem fundamentos e sem sentido.
O autor consegue ser fiel ao linguajar próprio da idade do adolescente, tanto em pensamento quanto nos diálogos, mostrando sua instabilidade emocional, com memórias soltas, idéias que se atropelam, aparentemente sem nexo.
Narrado em primeira pessoa, o livro tornou-se mais popular quando veiculado pela imprensa que inspirou
Chapman ao assassinato de John Lennon, em 1980.

Download: "O apanhador no campo de centeio" - J.D.Salinger

sábado, 5 de julho de 2008

O plágio segundo Mário de Andrade

"Não sou de forma alguma contra o plágio em trabalhos de qualquer natureza, e muito tenho plagiado. Já roubei idéias artísticas, processos literários e pensamentos críticos (...). O plágio tem qualidades ótimas: enriquece a gente, desentorpece uma exposição intelectual do excesso de citações, permite a gente melhorar idéias alheias boas, mas mal expressas incidentalmente."

(Andrade, 1939, apud Espinheira Filho, 2001, p. 34 -35)

sábado, 21 de junho de 2008

"Por um fio" - Dráuzio Varela


Livro escrito com esmero, cuidado, trata do histórico verídico do autor, médico oncologista, o trato com os pacientes terminais, a visão desses e, principalmente, relata a sensibilidade de um profissional que enxerga o paciente como humano, descrevendo suas histórias, emoções, angústias, além da da própria doença.
Seria um exemplar para se indicar a alguém condenado à morte por um mal sem cura? Não. É um livro que fala da vida e das tantas faces que ela se mostra, com tantos acontecimentos, tantas histórias, cada universo único que é o humano e a luta por um fio de vida, ou pelo rompimento do fio de vida que atormenta.
O que mais me chamou a atenção foi o fato de, apesar de tratar de um tema tão delicado, como a morte, não recorre ou justifica os males como vontade Divina. É um livro real.

Download: "Por um fio" - Dráuzio Varela

domingo, 15 de junho de 2008

"O sol também se levanta", de Ernest Hemingway

A história é um recorte na vida de um grupo de amigos boêmios, americanos e ingleses, na Paris nos anos 20. Com narrativa em primeira pessoa, o jornalista, Jacob Barnes, o protagonista, conta suas aventuras boêmias com dois amigos escritores, a bela e futil Lady Brett Ashley e seu noivo. Em busca de emoções fortes, saem de Paris e vão para Pamplona, na Espanha, onde assistem à fiesta de San Firmín, espetáculo com touradas. Estas são descritas como espetáculos mágicos, considerados pelo autor como maravilhosos e apaixonantes, apesar da crueldade envolvida. No meio, desenrola-se uma frustrada história de amor entre Jacob e Brett; eles se conheceram durante a guerra, quando Jacob sofreu uma mutilação, tornando-se impotente. Ela trata os homens como simples objeto e envolve-se com vários deles, apesar de ser comprometida. Não há maior profundidade nos personagens; eles são irônicos e parecem vivenciar uma espécie de vazio existencial, talvez o mesmo em que viveu o próprio Hemingway, durante a chamada "geração perdida".

sábado, 14 de junho de 2008

Sartre: Ler é se comprometer

Para o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre, "toda arte do autor consiste em me obrigar a criar aquilo que ele desvenda, portanto em me comprometer". Para Sartre, a obra literária só vai encontrar uma efetivação no ato da leitura praticada por outra pessoa. Diz ele que todas as obras do espírito contêm em si a imagem do leitor para o qual a obra é destinada. Portanto, nessa perspectiva, a leitura é uma reescritura. Por esse motivo, Sartre fala que ler é se comprometer.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

"A casa do poeta trágico" - Carlos Heitor Cony

Depois de três anos de separação, Augusto recebe a visita da ex-mulher, Mona, na casa q foi construída para eles, em Itaipava.
O encontro traz recordações da vida em comum, a trajetória desde o encontro, quando Augusto, em um cruzeiro pelo Mediterrâneo, observa Mona, uma jovem de 16 anos, ausente da realidade, enigmática, até essa observação tornar-se obsessão e persegue a adolescente até Nápoles, onde ela residia.
Mona recorda sua ânsia de sair da casa dos tios, a aparição de Augusto e seu pedido a ele que lhe conte "a história do mundo".
O livro denota os níveis por que passam um relacionamento a dois, as mudanças de comportamento e sentimentos, a diferença de idade entre os amantes (trinta anos). Também leva a pensar que o crescimento individual é moldado pelo convívio, da troca recíproca de experiências.
O título faz alusão a uma ruína na cidade de Pompéia, Itália, onde consta a inscrição "cave canem", cuidado com o cão, que acaba sendo uma alusão ao protagonista e seu cão Segredo, em sua casa de Itaipava.

"Ao fazer, tudo se reduz ao sim ou não, ao ficar ou partir."

"O homem - qualquer homem - é uma casa habitada por um poeta que, sabendo ou não sabendo, tem um sentido trágico"

Download: não encontrado.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Sobre KATHERINE MANSFIELD

KATHERINE MANSFIELD
Em apenas 34 anos de vida, a escritora neozelandesa Katherine Mansfield deixou uma belíssima e conceituada obra literária, feita basicamente por contos. Emigrou para a Inglaterra no começo do século XX.
Teve uma vida breve e conturbada na atmosfera vitoriana em que viveu. Influenciada por Tchekhov, admiradora de Joyce, e admirada por Virginia Woolf e Clarice Lispector. Participou na renovação da difícil arte do conto, e inventou a sua própria forma de conto, o conto breve. Tentou libertar-se da moral vitoriana e do clássico enredo, e era considerada moderna não só na literatura mas em seu comportamento. Esta escritora inventou a sua própria forma de conto, o conto breve.
Depois de escrever contos e críticas sob as iniciais K.M. para vários jornais, ela publicou as coletâneas Prelude (1918), Je ne Parle pas Français (1918), e Bliss (1920), o último dos quais estabeleceu a sua reputação literária. A sua fama aumentou ainda com obras posteriores como The Garden Party (1922) e The Dove's Nest (1923). Casou-se (pela terceira vez) com o crítico e ensaísta John Murry em 1918, tornando-se membro de um círculo literário que incluía Virginia Wolf e D.H. Lawrence. Depois da sua morte por tuberculose, aos 34 anos de idade, Murry publicou edições póstumas de seus contos.
(Resumo feito a partir de textos publicados em The New Caxton Encyclopedia e em Grolier Multimedia Encyclopedia)
Aqui no Brasil, foram publicados "Aula de Canto", "Felicidade e Outros Contos", "A Festa" e "Je ne Parle Pas Français".
Katherine Mansfield ocupa uma posição relevante na área da ficção curta em inglês. Sua obra, conhecida em âmbito mundial, é usualmente analisada sob uma ótica simbolista devido à riqueza de suas imagens. A leitura de sua obra não ficcional, menos conhecida, revela os ideais éticos e estéticos que nortearam a sua produção criativa, entre eles a preferência por explorar imagens da Nova Zelândia. Em seu diário, que registra quase que ininterruptamente os fatos de sua vida entre os anos de 1907 e 1923, data de sua morte; escreveu cartas a diversos escritores contemporâneos onde se observam manuscritos de grande parte de seus contos e anotações sobre seu processo criativo.
(Texto de Camilla Damian Mizerkowski , In: III Seminário de Teses e Dissertações em Estudos Literários, 2007)

domingo, 11 de maio de 2008

"A Beata Maria do Egito",de Rachel de Queiroz

"A Beata Maria do Egito" é uma história inspirada na tradição das beatas de Juazeiro do Norte, Ceará, no século 19, e escrita como uma peça de teatro. Na trama, que se passa em 1914, a beata Maria do Egito recruta populares para se juntarem à rebelião que Padre Cícero lidera em Juazeiro. Seu caráter revolucionário faz com que o latifundiário coronel Chico Lopes obrigue o tenente João a prendê-la, o que traz uma grande tensão ao enredo, causada pela iminência de um ataque dos romeiros. A situação é agravada pela atração que o tenente sente pela moça. Ao perceber o interesse da beata, que tenta conseguir a liberdade, o tenente decide mantê-la presa, apesar da ameaça do ataque popular à delegacia. Porém, o cabo Lucas simpatiza com a causa da Beata e entra em conflito com o tenente, enaquanto a delegacia está quase sendo invadida. Na situação, o tenente toma a beata como refém e o cabo tenta desarmá-lo, chegando, assim, na decisão entre dois amigos em uma luta de morte. Percebe-se na obra, a perfeição da linguagem, a clareza e realismo dos diálogos, os cenários nordestinos bem desenhados, a pesquisa histórica e a força indiscutível das personagens femininas. O desfecho final, não vou contar...
Li o exemplar de uma edição antiga, uma relíquia encontrada em uma biblioteca pública.

sábado, 10 de maio de 2008

"A rosa tatuada" - Tennessee Williams

Obra teatral, como espaço cenográfico a casa, alpendre e jardim de Serafina della Rosa, viúva do camioneiro Rosário della Rosa. Serafina aí vive com sua filha Rosa e a trama se passa no decorrer de três anos em que ela sofre com a viuvez e cultua a memória do marido, até descobrir que fora traída por ele, quando entrega-se a outro homem. Em paralelo, a filha inicia um romance com Jake Hunter, marinheiro que promete à Serafina honrar a inocência de Rosa, tendo que resistir às investidas da adolescente.
Trama sem muitas emoções, talvez mais interessante, se vista em cena, já que obteve prêmios, inclusive em adaptação a cinema.

Link para download não encontrado.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

"Zadig ou o destino" - Voltaire

Livro de fácil leitura, que tem como personagem Zadig, homem virtuoso, que possui senso de justiça e inteligência. De primeiro ministro do rei da Babilônia, é condenado à morte, foge, torna-se escravo, andarilho, tem em seu caminho passagens de amores traídos, decepções, que não tiram sua honra e sabedoria, tampouco a vontade de reencontrar seu amor conquistado, tampouco a pureza que possui. Deixa-nos a pensar no destino, tipo "o que seria se não tivesse sido?..."
O autor fala da monarquia, burguesia, a avareza, inveja, amizade, valores humanos, conhecimento.

"[As paixões] são como ventos que enfunam as velas do barco. Elas o submergem às vezes, mas sem elas não se poderia singrar. A bílis o torna colérico e doente, mas sem a bílis o homem não poderia viver. Tudo é perigoso neste mundo e tudo é necessário" (Grifo nosso)

"Os maus são sempre infelizes: servem para pôr à prova um reduzido número de justos espalhados sobre a terra e não há mal do qual não resulte um bem"

Download: Zadig - Voltaire

O indisciplinador d'almas


"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

(Fernando Pessoa)

"Rumo ao Farol", de Virgínia Woolf

A história começa com a família Ramsay e amigos de férias numa ilha da Escócia durante a Primeira Guerra Mundial. A família recebe alguns convidados em sua casa de praia. Nesta fase, que acontece antes da guerra, vive-se uma atmosfera de felicidade ingênua na família. A Sra. Ramsey é o centro das atenções e a protagonista principal. Anos depois, os sobreviventes se encontram no mesmo lugar, e rememoram aquele momento. Aí se misturam questões banais, como o passeio de barco a um farol próximo, com os fatos traumáticos da Guerra.
O casal Ramsay é caracterizado como uma mulher mandona e radiante e um marido egoísta. No início, já se descrevem as diferenças entre Mr. e Mrs. Ramsay. A primeira frase do livro "É claro que amanhã fará um dia bonito", dito pela mãe, é logo contrariada pela do pai, "Mas o dia não ficará bom". Estas diferenças persistem durante a narrativa, e mesmo quando Mrs. Ramsay já está morta. Esta é a última parte do romance, que ocorre dez anos depois, quando ocorre o passeio de até a ilha do farol com os remanescentes da família em um clima melancólico.

"As mulheres, durante séculos, serviram de espelho aos homens por possuírem o poder mágico e delicioso de refletirem uma imagem do homem duas vezes maior que o natural"

"(...) eu perdi amigos, alguns para a morte... outros pela incapacidade de atravessar a rua"

"A vida é como um sonho; é o acordar que nos mata"

quarta-feira, 7 de maio de 2008

"A confissão de um filho do século" - Alfred Musset

França, século XIX, fim das guerras, volta dos guerreiros ao lar, dacaídos, ensangüentados; os jovens, antes preparados para serem guerreiros, vêem-se sem perspectivas e soltos em seus objetivos.
Assim traça-se o início do livro o autor, retratando a juventude nascida da desilusão e pedidos em um absoluto tédio interior, com amores implacáveis e suas conseqüências.
Musset nos leva a refletir sobre o sofrimento do ciúme e suas nauseabundas liturgias cerebrais, trazido junto com o idílio amoroso supremo, o amor além de si.
Fala do apego e de formas de amar, do jovem libertino e do apaixonado, de ações fustigadas pelo veneno da desconfiança.
Otávio, jovem e romântico, apaixona-se e sofre, depois apaixona-se e sofre novamente. Essas paixões cobertas pelo véu da desconfiança, do êxtase de amar demais, do sofrimento de não saber, ou crer saber, ou apenas julgar saber.
Tudo escrito da forma loquaz do romantismo, permeado por prosopopéias, sinestesias, eufemismos... Bem ao estilo da época de Byron, um típico livro-filho do século, com direito a muitos suspiros e lágrimas.

Frases:

"Há, no homem, dois poderes ocultos que combatem até a morte: um clarividente e frio, prende-se à realidade, calcula-a, pesa-a e julga o passado; o outro tem sede de futuro e se atira para o desconhecido. Quando a paixão empolga o homem, a razão o segue chorando e advertindo-o do perigo; mas, logo que o homem atende à voz da razão, logo reconhece: 'é verdade, sou um louco; aonde ia eu?', a paixão lhe grita: 'e eu, vou então morrer?'"

"É agradável julgar-se infeliz, quando se é apenas vazio e enfadado"

"Tudo o que era deixou de ser, tudo o que será não é ainda. Não busqueis fora daí o segredo dos nossos males"

"Os touros feridos no circo têm a liberdade de ir deitar-se a um canto com a espada do toureiro nas costas e morrer em paz"

"Não confunda o vinho com a embriaguez, não tome a taça divina em que estiver bebendo como sendo a bebida divina, e não se admire de encontrá-la, à noite, vazia e quebrada"

Download? Não encontrei. Se alguém conseguir, avise.

Boa leitura!

segunda-feira, 5 de maio de 2008

"Édipo Rei" - Sófocles

Obra de teatro escrita por Sófocles (nascido aproximadamente em 496 a.C.), que tem como personagens Édipo, Laio, Jocasta, Creonte, o coro (personagem que significa o povo), entre outros. Retrata a tragédia de Édipo, que é mandado, com três dias de nascido, para o deserto para que seja morto, depois de ser revelado pelo oráculo que o filho mataria o pai e se casaria com a mãe. Porém, Édipo é entregue pelo servo incubido de matá-lo a um pastor que, por sua vez, entrega ao rei de Corinto, que não podia ter filhos. Crescido, Édipo é vítima de um gracejo dito por um bêbado, que era um filho rejeitado. Contrariado, vai ao oráculo de Delfos, onde sabe seu terrível destino de matar o pai e desposar a mãe. Para não assassinar Polípio, foge. Aí encontra seu verdadeiro destino, quando desvenda o mistério da Esfinge, torna-se rei de Tebas e casa-se com Jocasta, sua verdadeira mãe.
A tragédia fala do poder dos deuses gregos e sobre o destino de cada um.

Download: Édipo Rei - Sófocles (<-click no título para baixar o livro)

domingo, 4 de maio de 2008

"De Profundis" - Oscar Wilde

Trata-se de uma carta verídica escrita por Oscar Wilde, enquanto esteve preso por acusação de cometer atos imorais, para o amigo Sir Alfred Douglas, este referido em sua biografia como seu amante.
Por se tratar de um escrito que não teve revisões por parte do autor, o documento (vou tratar a obra assim), dá-nos maior paixão de leitura, sabendo-o verídico e completo.
Para escrevê-lo, Wilde recebia uma folha de papel por vez e usava letras miúdas para que pudesse ter mais espaço de escrita (segundo a introdução do livro, escrita pelo filho do autor).
Enfim, no documento, Wilde acusa o amigo pela situação de prisão, falência financeira e moral em que se encontrava. Descreve a amizade, momentos passados juntos, os insultos, as perseguições do pai de Alfred Douglas e do próprio amigo.
Trata-se de um relato de amizade, amor, arrependimento, aprendizado e sofrimento.
A genialidade da obra é tanta que emociona, com coerência de pensamento, idéias claras e profundamente doloroso. Por vezes, lendo, percebemos a paixão com que é escrito, outras vezes vemos a raiva, a compaixão, um livro mágico, poético, apaixonante... Enfim, algo De Profundis.

Frases:

"O verdadeiro tolo, de quem os deuses zombam e a quem tentam destruir, é aquele que não conhece a si próprio"

"O sofrimento é o nosso meio de vida porque é o único meio através do qual temos consciência de existir, a lembrança dos sofrimentos passados nos é necessária como um testemunho, uma prova de que continuamos a manter a nossa identidade"

"Os erros mais terríveis da vida do homem não acontecem porque ele é um ser irracional - um momento de irracionalidade pode tornar-se o mais belo momento da vida -, mas porque ele é um ser lógico"

"Os pecados da carne não têm nenhuma importância: só os pecados da alma são vergonhosos. São enfermidades cuja cura - se é que devam ser curados - cabe aos médicos"

"As coisas mais importantes da vida são exatamente aquilo que parecem ser e por essa razão, embora talvez isso lhe pareça estranho, são muito difíceis de interpretar. Mas as pequenas coisas são símbolos e é através delas que recebemos mais facilmente as lições mais amargas"

"Lamentar as experiências vividas é uma forma de impedir o próprio desenvolvimento. Negá-las é colocar uma mentira nos lábios da própria vida. É nem mais nem menos do que a negação da alma."


"Não há verdade que se compare ao sofrimento. Há momentos em que esta me parece ser a única verdade. Outras coisas podem ser ilusões dos olhos ou do apetite, feitas para cegar um e saciar o outro, mas é o sofrimento que tem construído os mundos, há sempre dor no nascimento de uma criança ou de uma estrela."


"Em cada instante da nossa vida, somos sempre tanto aquilo que iremos ser quanto aquilo que já fomos"


Teria muitas outras passagens para postar, mas o espaço aqui, assim como o tempo que corre, tem de ser medido e bem calculado.

Boa leitura!

Download: (Click no nome->) De profundis - Oscar Wilde

sexta-feira, 2 de maio de 2008

"As intermitências da morte" - José Saramago

O que dizer de um livro onde a personagem principal é a morte?

Ano novo, em um país imaginado pelo autor, as pessoas deixam de morrer. O Governo (como é particular de todo Governo) acalma, dizendo que não há motivos para alarde, que nomeará uma comissão para analisar o ocorrido, reuniões, etc... Se morrer seria motivo de crise, deixar de morrer seria alarmante? Paradoxo. Aí entra a onda de patriotismo, alegria, crise dos agentes funerários... Até a não morte tornar-se um problema. Os doentes se acumulam nos hospitais, a rainha-mãe não morre para dar lugar ao novo rei... E o papel da Igreja? Pedem a Deus que mandem de volta a morte! Vão à fronteira do país para que os doentes terminais parem de sofrer, cria-se o tráfico de doentes para a morte (a "máfia"). Situação delicada com os países vizinhos...
Até que a morte toma forma, dando outro rumo ao livro. Nesse ponto, particularmente (opinião própria, claro!), o livro perde um pouco a característica, o brilhantismo do início. As pessoas são avisadas por carta a data de sua morte, até que a carta a um determinado habitante sempre volta, a morte não consegue entender o motivo. Daí... daí leia o livro para saber a resposta!
Apesar da pontuação louca, ausência de letras maiúsculas, vale a pena ser lido.
Bem ao estilo Saramago, naquela forma ininterrupta de escrever, como se fosse num fôlego só.
Simplesmente surpreendente, empolgante.

Frases:
"A religião é assunto da terra, não do céu"

"A Filosofia precisa da morte tanto quanto a religião. (...) Filosofar é aprender a morrer"

"As religiões não têm razão para existir que não seja a morte. É para isso que existimos. Para levarmos todo o tempo o medo pendurado no pescoço e, chegada a hora, olham a morte como uma libertação"


Download: As intermitências da morte - José Saramago

quinta-feira, 1 de maio de 2008

"Quando Nietzsche chorou" - Irvin D. Yalom

Nietzsche levado ao divã, em pleno nascimento da Psicanálise.
Josef Breuer, personagem principal, a pedido de Lou Salomé (figura que consta na biografia de Nietzsche), tenta tratar as dores e angústias de Nietzsche com a Psicanálise, sob o argumento daquela que o amigo estaria para cometer suicídio. O tratamento se dá, porém havendo a reversão do profissional como paciente, paciente como analista.
Sigmund Freud como personagem secundário, cartas de Nietzsche endereçadas a Lou Salomé, Wagner, amigos e irmã, além de histórias paralelas de envolvimentos pessoais de analista com pacientes...
O bom do livro é ser lido imaginando-o não-ficção, sentindo a trama como real, pois assim percebe-se mais densamente o mistério a o suspense do romance, que se lê vorazmente.
Pessoalmente, achei que o final foge um pouco à trama, mas não deixa de ser bem escrito e nostálgico.


Frases e passagens:


"A escolha do sobrenatural é sempre enfraquecedora. Ela sempre torna o homem menos do que é. Amo aquilo que nos torna mais do que somos! (...) A esperança é o derradeiro mal."
"Assim como ossos, carne, intestinos e vasos sanguíneos estão encerrados em uma pele que torna a visão do homem suportável, também as agitações e paixões da alma estão envolvidas pela vaidade; ela é a pele da alma."
"(...) Jamais alguém fez algo totalmente para os outros. Todas as ações são autodirigidas, todo serviço é curto-serviço, todo amor é amor-próprio. (...) Cave mais profundamente [e verá] que aqueles que ama, não os ama de fato. Ama as sensações agradáveis que tal amor produz em você! Ama o desejo, não o desejado."
"Você pode voar, mas não se pode começar a voar voando. Primeiro tenho de lhe ensinar a andar, e o primeiro passo a aprender a andar é entender que quem não obedece a si mesmo é regido por outros. É mais fácil obedecer a outro do que dirigir a si mesmo."
"Se você matar Deus, terá também de deixar o abrigo do templo. (...) O espírito do homem se constrói a partir de suas escolhas. (...) Caso escolha ser um dos poucos que participam do prazer do crescimento e da alegria da liberdade sem Deus, terá que se preparar para a máxima dor. Eles estão interligados e não podem ser experimentados separados! Se desejar menos dor, terá que escolher, à semelhança dos estóicos, a renunciar ao máximo prazer."
"Uma árvore precisa enfrentar tormentas para alcançar uma altura digna de orgulho. A criatividade e a descoberta são gerados na dor. É preciso ter caos e frenesi dentro de si para dar à luz uma estrela dançante"


E tantas, tantas e tantas outras passagens que, se fosse colocar aqui, não teria sentido indicar o livro para leitura. Leria aqui mesmo.
Download: Quando Nietzsche chorou - Irvin D. Yalom

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Tempestade sem bonança - Françoise Sagan

Um sexagenário conta sua desventura amorosa com uma viúva abastada, como se escrevesse um rascunho de memórias do passado, volta 30 anos em sua vida. Nicholas Lomont, personagem principal, desvenda seu sentimento engrandecido ao exagero, numa história longa ao extremo, lamurioso em opulência, dá-nos a sensação de querer parar de ler. Parar por emoção? Não, pelo contrário! Tédio mesmo.
Primeiro livro que tenho a oportunidade de ler da autora e, como leio de tudo, pode ser que venha a ler outras obras dela. Pode ser.
Não recomendo.
Frase:
"Certas mulheres nascem viúvas como outras nascem mães, como outras nascem solteironas, como outras nascem esposas e outras amantes".

Sem links para download. Poupar-vos-ei esse trabalho.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Jane Eyre, de Charlotte Brontë

“Jane Eyre” é uma viagem à Inglaterra vitoriana. Órfã, Jane Eyre vive infeliz na casa da tia, que a maltrata. Tudo muda quando ela é enviada a uma escola, onde consegue se tornar professora. Apesar da rigidez das regras vigentes, encontra a oportunidade de aprender e expandir a sua inteligência. Após seis anos, decide procurar um trabalho, e o encontra no Castelo Thornfield Hall, como perceptora da jovem Adèle, a pupila de Edward Rochester, dono do castelo, por quem Jane acaba se apaixonando. É um sentimento correspondido. Rochester admira a inteligência de Jane e sua retidão moral. Ela é a imagem da feminilidade, embora seja considerada sem atrativos físicos. Como tudo se passa na época vitoriana, observam-se características de uma ordem social muito austera. Rochester propõe-lhe casamento e ela aceita. Sem Jane saber, estava prestes a transpor as “normas” da sociedade em que vivia. A verdade é conhecida em frente ao altar. Jane descobre que Rochester já era casado, com uma mulher chamada Bertha que, entretanto, enlouquecera. Para que ninguém soubesse, ele a mantinha escondida no sotão do castelo. Jane foge. Após alguns dias de fome e frio, ela é recolhida por John Rivers e suas irmãs. Após se restabelecer, Jane resolve voltar e descobrir o que se passara com Rochester, um ano depois que fugira de sua casa. Encontra-o cego, pois o castelo fora incendiado pela louca, e ele perdera a visão ao tentar salvar todos. Como Bertha morrera no incêndio, Jane decide se casar finalmente com Rochester. Este livro parece uma história romântica como outras tantas já escritas, e a forma como tudo acontece faz lembrar os romances que se vendiam nas bancas de jornal, em periódicos do tipo “Júlia” e “Sabrina”, muito populares nos anos 80. Mas não é nada disso. Trata-se de um clássico da literatura, e retrata a emancipação de uma mulher e de seu espírito livre em uma época em que as mulheres só tinham dois caminhos, o casamento ou o convento. Jane Eyre tinha um espírito independente e altivo, diversamente das mulheres do século XIX. Ela conhece os piores momentos da sua vida, consegue reconstruí-la e toma o seu destino nas mãos.

domingo, 27 de abril de 2008

"Ratos e homens" - John Steinbeck

George e Lennie: um esperto, vigilante, astuto; outro com mente infantil, grande em sua estatura, possui enorme força física. Não possuem ninguém, além de um ao outro, unidos pela amizade. Lennie, na sua carência de criança, apega-se a ratos como a homens, mostrando que a importância, numa mente menos desenvolvida, o quadrúpede e o homem são semelhantes. Em personagens paralelos, revela a amizade de um velho e seu cão, que é levado a ser sacrificado pela idade; o preconceito racial e diferenças de classes sociais.
Ambos, George e Lennie, trabalham em troca de comida e um lugar para ficar, sendo levados pelo sonho alimentado por George em Lennie de possuir uma propriedade rural. Retrato da sociedade americana na década de 30, é um livro de fácil leitura, tanto que o indicaria para um adolescente com sede de ler, pequeno (145 pág), emociona ao final.

Download: Ratos e Homens - John Steinbeck

"O Amanuense Belmiro", de Cyro dos Anjos

É uma narrativa feita em primeira pessoa, na forma de um diário. Belmiro Borba, o narrador, conta sobre seus sonhos frustrados, seu cotidiano e seus amores platônicos. Belmiro é um burocrata solteiro de quarenta anos, que mora em Belo Horizonte, e sente grande monotonia na sua vida pessoal. O enredo passa-se na década de 1930. Como funcionário público (chamado também de amanuense), ele mostra sua profissão mergulhada no cotidiano. A função pública quase nada exige de Belmiro. Assim, pode dedicar-se aos amigos, às irmãs mais velhas que vivem com ele, e, principalmente, à sua própria introspecção. De linhagem psicológica, este livro revela um personagem observador perspicaz e contido, mostra uma fina ironia, e um pessimismo amargo. Belmiro parece sentir uma paralisia frente à vida. Cultiva ardente paixão platônica por uma jovem que o abraçara rapidamente em um baile de carnaval e depois desaparecera, e faz dela um mito. Mais tarde, reconhece a moça em Carmélia e nutre por ela um amor idealizado. Belmiro invoca então o “mito de Arabela”, donzela de suas leituras infantis, que vivia em uma torre de castelo. Esta imagem de uma inatingível figura feminina, vinda da infância, e da qual ele jamais se livrou, o que parece ligado à sa incapacidade de relacionamento com as mulheres. A paixão e a inércia (que impede Belmiro de realizar seus sonhos, ou pelo menos de dar mais colorido à sua existência), talvez estejam ligadas ao contraste entre o que se tem em mente e o que existe no mundo real. Gostei muito desse livro. Depois procurei outros livros de Cyro dos Anjos para ler, como "Abdias", onde se veem os mesmos traços na forma de escrever, a ironia fina, a inteligência, e muita subjetividade. Um mergulho na interioridade.

sábado, 26 de abril de 2008

"Irmãos Karamazov" - Fiodor Dostoyevski


Três irmãos, Aliéksiei, Ivan e Dimitri e o pai viúvo, cada um com traços bem definidos de personalidade - marca do autor em suas obras - são os personagens do livro. O principal do narrador, Aliocha, está para ingressar no monastério, reencontra os irmãos e decide dedicar-se mais ao pai e a eles. Presença da discussão religiosa, niilismo, episódio de parricídio.
Uma das passagem favorita minha é a alucinação de Ivan, que conversa com um ser imaginário. O diálogo que se desenrola entre ambos.
Alguns podem até considerar o romance tedioso, longo demais. Mas me foi tão empolgante, tão minuncioso na construção psicológica dos personagens, tão denso, questionador, que eu, particularmente, não o enquadraria nesses termos.

Passagens do livro:
"O homem procura o milagre, não Deus. E não sabe ficar sem ele, forja novos. Ainda que seja um herege, buscará feiticeiros, mágicos. Os homens submetem-se ao mistério. Assim, corrigimos tua obra buscando-a no milagre, no mistério e na autoridade"

"O mundo proclamou a liberdade(...) e o que representa ela? Nada mais senão a escravidão e o suicídio"

"Adeptos da ciência querem organizar-se pela razão apenas, mas sem o Cristo, como outrora; já proclamaram que não há crime nem pecado.(...) Sem Deus, onde está o crime?"

"Que é o inferno? É o sofrimento por não poder mais amar"

"-...Não acreditas em Deus? [pergunta Aliocha]
- Pelo contrário, nada tenho contra Deus. Decerto, Deus não é senão uma hipótese... mas... reconheço que ele é necessário à ordem. (...) E se ele não existisse, seria preciso inventá-lo"
[grifo nosso]

"Pode-se inventar a humanidade sem crer em Deus. (...) Voltaire não acreditava em Deus mas amava a humanidade. (...) Não sou contra Cristo. Era uma personalidade completamente humana, se tivesse vivido em nossa época, ter-se-ia juntado aos revolucionários"

"[As pessoas] sofrem e, em compensação, vivem uma vida real. Sem sofrimento, que prazer ofereceria ela?"[grifo nosso]

"Uma vez que a humanidade inteira professe o ateísmo (e creio que essa época, à maneira das épocas geológicas, chegará a seu tempo), então, por si mesma, sem antropofagia, a antiga concepção do mundo desaparecerá, e sobretudo a antiga moral. Os homens se unirão para retirar da vida todos os gozos possíveis, mas neste mundo somente. (...) Será possível que essa época chegue? Se não, é permitido a todo indivíduo que tenha consciência da verdade regularizar sua vida como bem entender, de acordo com os novos princípios. Neste sentido, tudo lhe é permitido"

sexta-feira, 25 de abril de 2008

"O Colecionador" - John Fowles

O Personagem principal, Frederick Clegg, funcionário público que se torna rico e possui o passatempo de colecionar borboletas., misantropo, que se encanta por Miranda, jovem que segue os passos e tem facínio, vendo-a do local onde trabalhava. Após ganhar uma fortuna na loteria, decide ter Miranda como "hóspede" , então planeja o rapto e a aprisiona num porão de uma casa isolada.
A segunda parte do livro deixa à mostra o pensamento de Miranda, jovem inteligente, dedicada às artes, amante de música clássica. A angústia de se manter trancada em um porão, a solidão, os pensamentos, o crescimento do desespero. Essa parte do livro mais me empolgou que as outras. Mostra o outro lado da história.
Deixa a certeza que os loucos não se pensam loucos, suas atitudes são auto-justificadas e claras para si próprios.
Recomendo. Lê-se num fôlego só.
Aqui está ele:
http://www.4shared.com/file/35533403/169517da/John_Fowles_-_O_Colecionador__doc___rev_.html?s=1

"Factótum" - Charles Bukowski



"Factótum" define uma pessoa que faz com muitos tipos de trabalhos, um "faz-tudo", também pode ser sem destino. Nesse livro, escrito em primeira pessoa, Bukowski constrói seu alter-ego no personagem Henry Chinaski, perseguindo uma carreira de escritor, vivendo de trabalhos diversos, sem se fixar em lugares, bebendo e bebendo e bebendo, tendo uma vida tal qual o escritor (segundo sua biografia) viveu: embriagado e marginal.
O livro narra as andanças de Chinaski, mas que nos deixa, por vezes, carentes que o escritor penetre mais no personagem, sem superficialidades. No entanto, isso não acontece.
Quem sabe, se Bukowski não tivesse saído da Alemanha para viver na América...
Mas vale a pena ser lido.


Frases do livro:

"Passar fome, infelizmente, não melhora a arte. Apenas a obstrui. A alma do homem está profundamente enraizada em seu estômago"
"O mito do artista faminto é um embuste"
"-Alguma vez você já se apaixonou?
- Isso é para pessoas de verdade. [Chinaski]
- Você me parece de verdade.
- Não gosto de pessoas de verdade.
- Não gosta?
- Eu as odeio." [grifo nosso]
"Eu era um homem que se fortalece na solidão; ela era para mim a comida e a água dos outros homens. Cada dia sem solidão me enfraquecia. Não que me orgulhasse dela, mas dela eu dependia"
"- O que você faz?
- Nada. Bebo. Vario entre isso. [Chinaski]" [grifo nosso]

Download: http://www.4shared.com/file/31749868/ba1d29dc/Bukowski_Charles_-_Faktotum.html?s=1