domingo, 22 de fevereiro de 2009

"A voz de Deus" - Agmar Resende

Vivências e visões da vida sob a ótica sensível da escritora mineira. Agmar Resende consegue fazer um livro em que encontramos humor onde nem se poderia ver humor, adicionado a histórias escritas em linguagem fácil, comentando e acrescentando, surpreendendo e trazendo o pensamento a funcionar.

Com histórias reais, postas também como depoimentos de pessoas reais do seu convívio ou alguns outros que passaram pelo tema dor e sofrimento, faz o encaixe sobre o assunto, sem perder o fio a qu
e se propõe o livro: desconstrução da dor, da perda, do sofrimento.

Apesar de contuntende, o tema abordado não peca em excesso de palavras óbvias, como as auto-ajudas que lotam as livrarias. Viaja em pontos de vista pessoais, elegendo e aceitando seus ídolos, expondo suas dúvidas, analisando o outro que passa pela sua vida e pergunta "não existe uma dessas em sua vida?". E existe. Isso nos leva a sorrir, além da emoção normal encontrada nos depoimentos inseridos.

Ótima leitura!

Link para encontrar o livro: "A voz de Deus" - Agmar Resende


"Os coxos dançam sozinhos" - José Prata

Livro que constrói a mente de um psicopata, o policial corrupto Porto Brandão, desde suas amarrações com a infância de abusos e violências, até sua visão fria e sarcástica do mundo em que vive.
O pensamento velado, narrado em primeira pessoa, com tiradas irônicas e planejadas, a mente de um assassino em série. Mata suas vítimas, prostitutas loiras, gordas, porém é surpreendido por outro personagem que visita sua cena de crime a as imita.
Um final que surpreende aos menos atentos, mas que juntam-se como peças de um quebra-cabeças.
Levar-se pela viagem do psicopata é sentir a angústia por traz de uma vida desregrada e solitária, imaginando que o medo deixa de existir, dando lugar apenas ao ódio e ao que acredita ser verdade. O personagem Brandão recompõe inteligência, sagacidade, loucura, narcisismo.
Um livro que lê-se de um fôlego só. Apenas há de acostumar-se às gírias portuguesas, que pouco conhecemos em nossa língua, bem como palavras traduzidas de forma literal, que deixa-nos a matutar a que se refere. Mas nada que a lógica da narrativa não esclareça.
Esse é para quem aprecia policiais e dramas psicológicos.
Recomendamos.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Escrever é esquecer

Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de idéias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois ninguém fala em verso.
(Fernando Pessoa)