segunda-feira, 30 de março de 2009

Psicossomática

“Quando o sofrimento não pode expressar-se pelo pranto, ele faz chorarem os outros órgãos.”
(William Motsloy)

domingo, 29 de março de 2009

Senso Crítico

Um bom livro faz pensar.
Através do estudo e análise de textos da mídia e do senso comum, o autor discute o sentido do raciocínio e da argumentação, os usos e abusos da lógica, a leitura nas entrelinhas e o apelo das falácias. É um livro voltado especialmente para estudantes de Metodologia Científica e pesquisas em geral.

O senso comum baseia-se em conhecimentos espontâneos e intuitivos, uma forma de conhecimento que fica no nível das crenças. No entanto há momentos em que as crenças se tornam problemáticas, aí o homem começa a pensar e surgem novas respostas, é neste momento que surge a Ciência.

Nossos estilos informais de comunicação e raciocínio (ou modo de pensar) habitualmente interferem com o trabalho na ciência, onde as regras do jogo são diferentes. As questões são resolvidas de maneiras diversas na vida cotidiana e na ciência e, por isso, muitos iniciantes passam por fases de frustração enquanto estão sendo ressocializados. Nas ciências humanas, normalmente apenas os alunos de pós-graduação recebem esta reeducação e, mesmo assim, somente quando elaboram suas dissertações.

As comunicações que recebemos diariamente, tanto na vida cotidiana como na ciência, exigem que transcendamos a lógica cujas regras, por mais úteis que sejam, tratam o raciocínio como se fosse algo que pudesse ser ensinado de forma automática, sem o uso da inteligência, sem intuições, sem reflexão sobre o significado das idéias consideradas.

O autor mostra com exemplos que para pensar criticamente, é necessário ser perspicaz, enxergar além da superfície, questionar onde não há perguntas já formuladas, e ver facetas que os outros não estão considerando.

“O bom senso é, entre todas as qualidades humanas, aquela distribuída mais por igual, pois todo mundo se acha tão dotado dele que até as pessoas mais exigentes nos demais assuntos geralmente não desejam ter uma porção maior desta qualidade do que já possuem”. (René Descartes, Discurso Sobre o Método).

CARRAHER, D. W. Senso Crítico: do dia-a-dia às ciências humanas. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Fatos e Interpretações


"Contra o positivismo que pára perante os fenômenos e diz: 'Há apenas fatos', eu digo: 'Ao contrário, fatos é o que não há: há apenas interpretações' "

(Nietzsche)

segunda-feira, 23 de março de 2009

"Caravana de destinos" - John Steinbeck

Livro que depois foi publicado com o título "A rua das ilusões perdidas", Steinbeck retrata Cannery Row, uma cidade na Califórnia, ambiente inserido na década de 30, logo após a primeira Grande Guerra, onde não se tem um personagem principal, mas todos são igualmente participantes, no inconfundível estilo "steinbeckiano", onde a bondade, a solidariedade, ingenuidade, mansidão do ser humano são explorados.
No livro encontramos Mack e seus companheiros de desventuras, que levam a vida de pequenos furtos, trabalhos esporádicos, mas que fazem o bem, até os roubos são justificados e bem aceitos; Dora e suas "meninas", cumprindo seus papéis de meretrizes, mas que são capazes de ajudar e sabem ser aceitas na cidade; Lee Chong, o dono da loja da cidade, que até a ambição que possui é velada pela bondade e ajuda ao próximo; Doc, o cientista que coleta animais para abastecer os laboratórios das outras cidades, admirado e querido por todos, capaz de conter a ira, vendo a intenção pelo que provocou tal sentimento; Os Malloy, a cadela Darling...
Enfim, personagens que se entrelaçam e cumprem seu papel de viver pelo bem, sem maldade, nascidos de suas histórias trágicas e solitárias, mas que não deixaram a docilidade do viver bem e fazer o bem.
Para os admiradores de Steinbeck (como nós), um livro que não pode deixar de ser lido.

Passagens:
... enquanto a maioria dos homens busca de pleno contentamento acaba destruindo a si mesmos e ficam além do objetivos, Mack e seus amigos procuravam contentamento quase construindo a si mesmos e ficando muito além do objetivo...

[O bordel] solene de Dora Flood [é] uma casa de prazeres decente, limpa, honesta, antiquada, (...) um clube virtuoso e inflexível, (...) tornou-se odiada pela irmandade distorcida e lasciva de puritanas casadas, cujos maridos respeitam o lar, mas não o apreciam muito.

Todos conheciam Doc e lhe deviam de uma forma ou de outra. E não havia quem não pensasse nele sem murmurar em seguida: "preciso fazer alguma coisa por Doc..."

É muito fácil dizer "o tempo tudo cura, isso também vai passar, as pessoas esquecerão" e outras coisas no gênero, quando não se está diretamente envolvido. Mas quando se está, o tempo parece que não passa, as pessoas não esquecem e se fica no meio de uma situação inalterável.

sexta-feira, 20 de março de 2009

"Cabine para mulheres " - Anita Nair

Índia, final da década de 90. Insatisfeita com sua vida, Aklandeswari, ou apenas Akhila, indiana de 45 anos, solteira, sem filhos, provedora da sua família após a morte de seu pai, quando tornou-se responsável pelos três irmãos menores e a mãe, decide fazer uma viagem de trem num vagão apenas para mulheres, acreditando que aquelas vidas que encontrará ali dariam respostas a seus questionamentos e então decidiria seu próprio destino.
Ela poderia, como mulher, viver sozinha, sem marido ou filhos, ou teria de continuar com o peso da família em sua responsabilidade, sendo essa sua obrigação?

Então divide o vagão com outras seis mulheres, seis mundos, seis histórias, contadas cada uma em primeira pessoa, intercalando com sua própria história. Ali, as mulheres, casadas em sua maioria, com filhos ou não, traçam um retrato da realidade feminina no mundo masculino indiano, suas percepções de vida, paralelos de opiniões, sofrimentos, alegrias. Um mundo dos maridos, dos pais e filhos. Dá-se a narrativa os efeitos do tempo, as alterações que ele opera nos sentimentos e relacionamentos. Sonhos que se desfazem e transformam, vidas que são tocadas pelo tempo e seus efeitos.
Akhila percebe suas próprias fraquezas, erros, decepções, sua existência dedicada à família, esquecendo-se de si.
Busca naquelas mulheres respostas às perguntas que deseja saber: é possível viver sozinha e ser feliz ou mesmo tempo, sem um universo masculino que o norteie?
A resposta dá-se ao final da narrativa, com a decisão que toma.
Boa leitura!

Passagens e frases:
Como é que alguém sabe se ama, odeia ou é simplesmente indiferente a um homem? Como mede o que se sente? Com um tubo de ensaio ou uma pipeta? Com uma espátula ou balança de precisão?

O amor acena com um raro buquê. Pede-lhe que beba dele. E, então, queima a língua, os sentidos. O amor cega. O amor enlouquece. O amor afasta a razão das idéias. O amor mata. O amor é álcool metílico fingindo ser álcool etílico.

Todas essas mulheres (...) estão tentando dar algum sentido à sua vida falando sobre ela. E eu achando que era a única que buscava definir a realidade de minha vida. Elas precisam justificar seus fracassos, tanto quanto eu. Quando nos atiramos à trama das vidas, estamos tentando nos sentir menos culpados pelo que somos e pelo que nos tornamos.

...Mas acontece que o coração é uma pulseira de cristal. Um minuto de descuido e ele se espatifa... (...) E, no entanto, continuamos usando pulseiras de cristal. Cada vez que se quebram, compremos outras, na esperança de que durem mais que as anteriores. Como as mulheres são tolas! Devíamos usar pulseiras de granito e transformar nosso coração nesse mesmo material. Mas elas não refletiriam a luz desse jeito tão bonito, nem soariam com a mesma alegria...

O que é o amor, senão uma necessidade disfarçada?

terça-feira, 17 de março de 2009