quarta-feira, 30 de abril de 2008

Tempestade sem bonança - Françoise Sagan

Um sexagenário conta sua desventura amorosa com uma viúva abastada, como se escrevesse um rascunho de memórias do passado, volta 30 anos em sua vida. Nicholas Lomont, personagem principal, desvenda seu sentimento engrandecido ao exagero, numa história longa ao extremo, lamurioso em opulência, dá-nos a sensação de querer parar de ler. Parar por emoção? Não, pelo contrário! Tédio mesmo.
Primeiro livro que tenho a oportunidade de ler da autora e, como leio de tudo, pode ser que venha a ler outras obras dela. Pode ser.
Não recomendo.
Frase:
"Certas mulheres nascem viúvas como outras nascem mães, como outras nascem solteironas, como outras nascem esposas e outras amantes".

Sem links para download. Poupar-vos-ei esse trabalho.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Jane Eyre, de Charlotte Brontë

“Jane Eyre” é uma viagem à Inglaterra vitoriana. Órfã, Jane Eyre vive infeliz na casa da tia, que a maltrata. Tudo muda quando ela é enviada a uma escola, onde consegue se tornar professora. Apesar da rigidez das regras vigentes, encontra a oportunidade de aprender e expandir a sua inteligência. Após seis anos, decide procurar um trabalho, e o encontra no Castelo Thornfield Hall, como perceptora da jovem Adèle, a pupila de Edward Rochester, dono do castelo, por quem Jane acaba se apaixonando. É um sentimento correspondido. Rochester admira a inteligência de Jane e sua retidão moral. Ela é a imagem da feminilidade, embora seja considerada sem atrativos físicos. Como tudo se passa na época vitoriana, observam-se características de uma ordem social muito austera. Rochester propõe-lhe casamento e ela aceita. Sem Jane saber, estava prestes a transpor as “normas” da sociedade em que vivia. A verdade é conhecida em frente ao altar. Jane descobre que Rochester já era casado, com uma mulher chamada Bertha que, entretanto, enlouquecera. Para que ninguém soubesse, ele a mantinha escondida no sotão do castelo. Jane foge. Após alguns dias de fome e frio, ela é recolhida por John Rivers e suas irmãs. Após se restabelecer, Jane resolve voltar e descobrir o que se passara com Rochester, um ano depois que fugira de sua casa. Encontra-o cego, pois o castelo fora incendiado pela louca, e ele perdera a visão ao tentar salvar todos. Como Bertha morrera no incêndio, Jane decide se casar finalmente com Rochester. Este livro parece uma história romântica como outras tantas já escritas, e a forma como tudo acontece faz lembrar os romances que se vendiam nas bancas de jornal, em periódicos do tipo “Júlia” e “Sabrina”, muito populares nos anos 80. Mas não é nada disso. Trata-se de um clássico da literatura, e retrata a emancipação de uma mulher e de seu espírito livre em uma época em que as mulheres só tinham dois caminhos, o casamento ou o convento. Jane Eyre tinha um espírito independente e altivo, diversamente das mulheres do século XIX. Ela conhece os piores momentos da sua vida, consegue reconstruí-la e toma o seu destino nas mãos.

domingo, 27 de abril de 2008

"Ratos e homens" - John Steinbeck

George e Lennie: um esperto, vigilante, astuto; outro com mente infantil, grande em sua estatura, possui enorme força física. Não possuem ninguém, além de um ao outro, unidos pela amizade. Lennie, na sua carência de criança, apega-se a ratos como a homens, mostrando que a importância, numa mente menos desenvolvida, o quadrúpede e o homem são semelhantes. Em personagens paralelos, revela a amizade de um velho e seu cão, que é levado a ser sacrificado pela idade; o preconceito racial e diferenças de classes sociais.
Ambos, George e Lennie, trabalham em troca de comida e um lugar para ficar, sendo levados pelo sonho alimentado por George em Lennie de possuir uma propriedade rural. Retrato da sociedade americana na década de 30, é um livro de fácil leitura, tanto que o indicaria para um adolescente com sede de ler, pequeno (145 pág), emociona ao final.

Download: Ratos e Homens - John Steinbeck

"O Amanuense Belmiro", de Cyro dos Anjos

É uma narrativa feita em primeira pessoa, na forma de um diário. Belmiro Borba, o narrador, conta sobre seus sonhos frustrados, seu cotidiano e seus amores platônicos. Belmiro é um burocrata solteiro de quarenta anos, que mora em Belo Horizonte, e sente grande monotonia na sua vida pessoal. O enredo passa-se na década de 1930. Como funcionário público (chamado também de amanuense), ele mostra sua profissão mergulhada no cotidiano. A função pública quase nada exige de Belmiro. Assim, pode dedicar-se aos amigos, às irmãs mais velhas que vivem com ele, e, principalmente, à sua própria introspecção. De linhagem psicológica, este livro revela um personagem observador perspicaz e contido, mostra uma fina ironia, e um pessimismo amargo. Belmiro parece sentir uma paralisia frente à vida. Cultiva ardente paixão platônica por uma jovem que o abraçara rapidamente em um baile de carnaval e depois desaparecera, e faz dela um mito. Mais tarde, reconhece a moça em Carmélia e nutre por ela um amor idealizado. Belmiro invoca então o “mito de Arabela”, donzela de suas leituras infantis, que vivia em uma torre de castelo. Esta imagem de uma inatingível figura feminina, vinda da infância, e da qual ele jamais se livrou, o que parece ligado à sa incapacidade de relacionamento com as mulheres. A paixão e a inércia (que impede Belmiro de realizar seus sonhos, ou pelo menos de dar mais colorido à sua existência), talvez estejam ligadas ao contraste entre o que se tem em mente e o que existe no mundo real. Gostei muito desse livro. Depois procurei outros livros de Cyro dos Anjos para ler, como "Abdias", onde se veem os mesmos traços na forma de escrever, a ironia fina, a inteligência, e muita subjetividade. Um mergulho na interioridade.

sábado, 26 de abril de 2008

"Irmãos Karamazov" - Fiodor Dostoyevski


Três irmãos, Aliéksiei, Ivan e Dimitri e o pai viúvo, cada um com traços bem definidos de personalidade - marca do autor em suas obras - são os personagens do livro. O principal do narrador, Aliocha, está para ingressar no monastério, reencontra os irmãos e decide dedicar-se mais ao pai e a eles. Presença da discussão religiosa, niilismo, episódio de parricídio.
Uma das passagem favorita minha é a alucinação de Ivan, que conversa com um ser imaginário. O diálogo que se desenrola entre ambos.
Alguns podem até considerar o romance tedioso, longo demais. Mas me foi tão empolgante, tão minuncioso na construção psicológica dos personagens, tão denso, questionador, que eu, particularmente, não o enquadraria nesses termos.

Passagens do livro:
"O homem procura o milagre, não Deus. E não sabe ficar sem ele, forja novos. Ainda que seja um herege, buscará feiticeiros, mágicos. Os homens submetem-se ao mistério. Assim, corrigimos tua obra buscando-a no milagre, no mistério e na autoridade"

"O mundo proclamou a liberdade(...) e o que representa ela? Nada mais senão a escravidão e o suicídio"

"Adeptos da ciência querem organizar-se pela razão apenas, mas sem o Cristo, como outrora; já proclamaram que não há crime nem pecado.(...) Sem Deus, onde está o crime?"

"Que é o inferno? É o sofrimento por não poder mais amar"

"-...Não acreditas em Deus? [pergunta Aliocha]
- Pelo contrário, nada tenho contra Deus. Decerto, Deus não é senão uma hipótese... mas... reconheço que ele é necessário à ordem. (...) E se ele não existisse, seria preciso inventá-lo"
[grifo nosso]

"Pode-se inventar a humanidade sem crer em Deus. (...) Voltaire não acreditava em Deus mas amava a humanidade. (...) Não sou contra Cristo. Era uma personalidade completamente humana, se tivesse vivido em nossa época, ter-se-ia juntado aos revolucionários"

"[As pessoas] sofrem e, em compensação, vivem uma vida real. Sem sofrimento, que prazer ofereceria ela?"[grifo nosso]

"Uma vez que a humanidade inteira professe o ateísmo (e creio que essa época, à maneira das épocas geológicas, chegará a seu tempo), então, por si mesma, sem antropofagia, a antiga concepção do mundo desaparecerá, e sobretudo a antiga moral. Os homens se unirão para retirar da vida todos os gozos possíveis, mas neste mundo somente. (...) Será possível que essa época chegue? Se não, é permitido a todo indivíduo que tenha consciência da verdade regularizar sua vida como bem entender, de acordo com os novos princípios. Neste sentido, tudo lhe é permitido"

sexta-feira, 25 de abril de 2008

"O Colecionador" - John Fowles

O Personagem principal, Frederick Clegg, funcionário público que se torna rico e possui o passatempo de colecionar borboletas., misantropo, que se encanta por Miranda, jovem que segue os passos e tem facínio, vendo-a do local onde trabalhava. Após ganhar uma fortuna na loteria, decide ter Miranda como "hóspede" , então planeja o rapto e a aprisiona num porão de uma casa isolada.
A segunda parte do livro deixa à mostra o pensamento de Miranda, jovem inteligente, dedicada às artes, amante de música clássica. A angústia de se manter trancada em um porão, a solidão, os pensamentos, o crescimento do desespero. Essa parte do livro mais me empolgou que as outras. Mostra o outro lado da história.
Deixa a certeza que os loucos não se pensam loucos, suas atitudes são auto-justificadas e claras para si próprios.
Recomendo. Lê-se num fôlego só.
Aqui está ele:
http://www.4shared.com/file/35533403/169517da/John_Fowles_-_O_Colecionador__doc___rev_.html?s=1

"Factótum" - Charles Bukowski



"Factótum" define uma pessoa que faz com muitos tipos de trabalhos, um "faz-tudo", também pode ser sem destino. Nesse livro, escrito em primeira pessoa, Bukowski constrói seu alter-ego no personagem Henry Chinaski, perseguindo uma carreira de escritor, vivendo de trabalhos diversos, sem se fixar em lugares, bebendo e bebendo e bebendo, tendo uma vida tal qual o escritor (segundo sua biografia) viveu: embriagado e marginal.
O livro narra as andanças de Chinaski, mas que nos deixa, por vezes, carentes que o escritor penetre mais no personagem, sem superficialidades. No entanto, isso não acontece.
Quem sabe, se Bukowski não tivesse saído da Alemanha para viver na América...
Mas vale a pena ser lido.


Frases do livro:

"Passar fome, infelizmente, não melhora a arte. Apenas a obstrui. A alma do homem está profundamente enraizada em seu estômago"
"O mito do artista faminto é um embuste"
"-Alguma vez você já se apaixonou?
- Isso é para pessoas de verdade. [Chinaski]
- Você me parece de verdade.
- Não gosto de pessoas de verdade.
- Não gosta?
- Eu as odeio." [grifo nosso]
"Eu era um homem que se fortalece na solidão; ela era para mim a comida e a água dos outros homens. Cada dia sem solidão me enfraquecia. Não que me orgulhasse dela, mas dela eu dependia"
"- O que você faz?
- Nada. Bebo. Vario entre isso. [Chinaski]" [grifo nosso]

Download: http://www.4shared.com/file/31749868/ba1d29dc/Bukowski_Charles_-_Faktotum.html?s=1

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Mário Quintana: "luta amorosa com as palavras"

[...] "Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de fármacia durante 5 anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Erico Veríssimo – que bem sabem (ou souberam), o que é a luta amorosa com as palavras."

"Servidão Humana", de Somerset Maugham


O autor relata com caráter semi-autobiográfico, a vida de Philip Carey, jovem sensível que nasce deficiente (pé torto congênito), fica órfão cedo e é criado pelo tio, que é vigário. Philip cresce influenciado pelas regras e dogmas da religião, mas se sente dividido entre esta e o que os livros e os estudos lhe fazem conhecer; é muito estudioso e ansia por conhecimento. Sua infância também é marcada por sua frágil condição física, que se torna motivo de profunda vergonha. Philip abandona, aos poucos, sua fé; tenta a carreira de contador em Londres; experimenta a vida de pintor em Paris; decide, então estudar medicina. Philip sobressai-se bastante como estudante de medicina, quando conhece a garçonete Mildred Rogers, uma mulher ambiciosa, egoísta e bastante frívola. Ele dispende seus poucos recursos com ela, mesmo sabendo que ela mantém casos paralelos. Vivem uma vida em comum, mas são completamente diferentes. Embora não tenham nada em comum, ele passa por um processo doentio de completa submissão obsessiva em relação a Mildred, que apenas o usa. Nem mesmo os conhecimentos filosóficos que adquiriu são capazes de fazê-lo livrar-se dessa obsessão. Ainda assim consegue desenvolver-se no curso de Medicina, mas anula-se quase completamente por causa dessa dependência afetiva neurótica. Aprofunda-se mais ainda na filosofia, em virtude do sofrimento pelo qual passa. Chegamos a sentir certa repulsa pelas situações descritas de completa anulação pessoal do protagonista, mas é nessa relação - em que obsessão e o desejo de liberdade se confrontam - que percebemos a força dessa obra.

"A distância entre nós" - Thrity Umrigar


Escritora indiana, Thrity Umrigar, consegue fazer um breve retrato de seu país, dos preconceitos, das etnias, da sociedade e a mulher indiana . Faz isso desenvolvendo a trama com basicamente dois personagens principais: Bhima e Sera, empregada e patroa. Duas realidades bem diversas, dois mundos que se entrelaçam.
O universo de ambas mostra os valores individuais, construídos e lapidados por uma vida inteira de preconceitos ditados e reditados, imperam sobre amizade ou senso de justiça.
Um livro um tanto longo, não empolga o suficiente. O que deixa, ao final é... Como sofrem essas coitadas! Mas, para quem aprecia o tema, uma boa pedida.

"O velho e o mar" - Ernest Hemingway

Solidão, amizade, experiência de vida, luta pela sobrevivência... Temas desse belíssimo livro de Hemingway.
Um velho pescador, Santiago, passados dias voltando do mar sem pesca, pega em seu anzol o "peixe de seus sonhos". A partir daí, o livro relata a perseverança e a experiência profissional como suportes para fisgá-lo e levar à terra.
Os monólogos do Santiago, em pleno mar, sendo arrastado pelo peixe mostram seu universo, seu curso de pensamento, fechado em seu mundo de pescador.

Deseja download do livro? É pra já! http://www.4shared.com/file/42832483/150cdefe/Ernest_Hemingway_O_velho_e_o_mar_.html?

quarta-feira, 23 de abril de 2008



"O Estrangeiro" de Albert Camus, escritor argelino.
Escrito em primeira pessoa, Mersault, o personagem principal, revela uma uma ausência de sentimentos, alheio ao mundo, opiniões, vontades, ou apenas o "deixar-se levar", falta de ambição, o momento como guia do destino e atitudes. Teve abalada sua frieza (revelada desde o início, com o relato da morte da mãe) quando se percebe condenado à morte por assassinato.
Creio que a mente de um autista funcione exatamente como Camus descreveu Mersault. Guiados por instintos, sem raciocínio coerente.
Ao final do livro, veio-me uma certa angústia pelo vazio do personagem.
Enfim, excelente livro!
Download:
http://www.4shared.com/file/45177242/eac5e462/Albert_Camus_-_O_estrangeiro.html?

terça-feira, 22 de abril de 2008

"Perdas e Ganhos", de Lya Luft (Ensaios)


Este livro contém um misto de ensaio e memórias; é um testemunho pessoal da autora, Lya Luft, sobre sua própria experiência do amadurecimento. A sua leitura nos proporciona uma sensível visão sobre o envelhecer da mulher. Como se o leitor fosse um amigo imaginário da autora, é convidado a refletir; é como se a autora estivesse dialogando com o seu leitor.
Assim, Lya Luft discute sobre velhice, amor, família, liberdade, homens e mulheres, valores da vida... e conclui que o tempo passa mas as nossas emoções não mudam muito, e que "é preciso reaprender o que é ser feliz". Às vezes, a leitura torna-se um pouco repetitiva, mas nesta repetição percebe-se que o texto torna-se uma conversa, e tem-se a impressão de que ela está contando seus segredos, como está escrito na própria orelha do livro ("como se estivesse tendo uma conversa ao pé do ouvido"). No final, temos a oportunidade de refletir que realmente há beleza no amadurecimento, há vida, enfim, depende do modo como olhemos para esse processo.

"Por que necessariamente agora, com o corpo agrandado, pele menos suave, rugas e experiência, estarei em declínio e não em transformação - como tudo o mais?" (p. 90)

"Perdemos muito tempo tentando iludir o tempo. Fatalmente amadurecemos mas não nos sentimos mais serenos, nem estamos mais contentes" (p. 114)

"O bem-estar e a alegria residem nas coisas mais triviais: esse é um dos aprendizados que o tempo nos dá. Por isso, a essa altura é mais simples ser feliz" (p. 135)

Entendi que a vida não tece apenas uma teia de perdas mas nos proporciona uma sucessão de ganhos. O equilíbrio da balança depende muito do que soubermos e quisermos enxergar.”

domingo, 20 de abril de 2008

"Aqui estamos todos nus" - Fernando Sabino


Três histórias que relatam a nudez da alma, a nudez física e a do encontro. Na primeira, temos quase arrancado do livro do mesmo autor, "Encontro Marcado", uma passagem em que o personagem principal é testemunha de um suicídio, vendo um corpo caindo de um quarto de hotel acima de onde se encontra, amortecida a queda numa marquise e caído ao chão. Aí trata-se de uma passagem na composição do todo que é o livro, ao passo que em "Aqui estamos todos nus", torna-se idéia predominante para o personagem, tendo revelações finais, a nudez da alma, o arrependimento e a dor da morte.
Na segunda história - hilariante, por sinal - o autor usa de um pesadelo individual de encontrar-se nu em plena cidade do Rio de Janeiro, perseguido e tomado por marginal, fugindo de seus perseguidores, para despojar sobre a hipocrisia social da não aceitação do nu, onde a falta de vestimenta toma pra si o poder de transformação pessoal. Bem, não sou defensora do nudismo, mas a história nos deixa pensar....
A terceira e última passagem do livro, percebemos a nudez da imbecilidade humana, mostrada que, quando trata-se do outro, que é pobre, maltrapilho, sem instrução, é-nos fácil ignorar; porém, quando esse pobre é possivelmente um "nosso", a perspectiva e os pontos de vista mudam drasticamente. Aí encontramos a nudez da descoberta, reencontros.

Passagens do livro:

"...Teria de se vestir para provar que era normal, soltar a esconder sob a roupa o atributo de sua condição de homem, para ser aceito pelos outros homens. Mas foi como Deus criou o homem e a mulher - sabia o trecho de cor: 'Estamos nus e disso não se envergonhavam'. Só tiveram consciência de sua nudez depois de tentados pela serpente a comer o fruto da árvore da vida e conhecer a ciência do bem e do mal. 'Então Deus fez para eles umas roupas de peles e os expulsou do Éden.' "

"Eu não era médico bem-sucedido coisa nenhuma. Apenas sabia disfarçar a mediocridade - a minha insegurança como clínico, em matéria de diagnóstico, por exemplo, era humilhante. A consciência da precariedade da medicina era cada vez maior: eu estava convencido de que noventa por cento dos males não tinham cura e dez por cento se curavam por si mesmos. E minha falta de vocação para aquela carreira era total - o que eu desejava ardentemente quando jovem, e por vergonha nunca havia confessado nem a mim mesmo, era vir um dia a ser escritor"

Horizonte Perdido, de James Hilton


"Horizonte perdido", de James Hilton (literatura americana): Fugindo da guerra, um grupo formado por três homens e uma mulher, é seqüestrado para Shangri-La, aldeia localizada numa longínqua montanha do Tibete. Surge, então, um mundo soberbo, onde a velhice e a morte assumem novos significados. Este livro me impressionou porque fala do ideal de paz e sabedoria no reino de Shangri-La.
James Hilton cria uma utópica localidade, um lugar mágico entre as belíssimas e inacessíveis montanhas congeladas do Tibet, onde pessoas de diversas nacionalidades vivem de forma livre, partindo do princípio do uso da moderação em todas as suas atividades e atitudes. A obra de Hilton reflete perfeitamente toda a instabilidade política e econômica do momento: o mundo vivia um período de forte depressão, impulsionada pela quebra da bolsa de Nova York, além da instabilidade política pós-primeira guerra mundial. Shangri-La seria então, um refúgio, um local onde poucos privilegiados poderiam conhecer. Mas será que o homem está pronto para isso? Essa é uma questão que o autor, de certa maneira responde.

"A hora da Estrela" de Clarice Lispector



Último livro de Clarice Lispector, escrito no ano de sua morte, em "A hora da estrela", ela se traveste como um narrador-personagem Rodrigo no objetivo de contar a história de Macabéa, nordestina-alagoana de 19 anos que muda-se para o Rio de Janeiro, após a morte da tia que a criou.
O livro pesponta-se com uma constante e repetitiva forma de descrever a personagem como simplória, ignorante, sem amor-próprio, sem atrativos físicos ou intelectuais, pobre, sem rumo e perspectiva. Macabéa é o estereótipo das nordestinas que invadem o imaginário dos verdadeiros ignorantes que não conhecem o que seja realmente uma nordestina.
Na trama, encontramos Raimundo, Glória, as companheiras de quarto (as Marias), a cartomante e o namorado Olímpico.
O livro já teve sua versão lançada em cinema.

Em se tratando de Clarice Lispector, vale a pena ser lido, como tudo o que a autora escreveu.

Frases do livro:

"Mas o vazio tem o valor e a semelhança do pleno. Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o de não pedir e somente acreditar que o silêncio que eu creio em mim é a resposta a meu - a meu mistério"

"Fatos são pedras duras e agir está me interessando mais do que pensar, de fatos não há como fugir"

"O fato é um ato?"

"O que amadurece plenamente pode apodrecer"

"Cada coisa é uma palavra. E quando não se a tem, inventa-se-a. Esse vosso Deus que nos mandou inventar"

"Por que escrevo? Antes de tudo porque captei o espírito da língua e assim às vezes a forma é que faz conteúdo."

"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite"

"Vivemos exclusivamente no presente pois sempre e eternamente é o dia de hoje - e o dia de amanhã será um hoje, a eternidade é o estado das coisas neste mundo"

"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias."

"Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui"

"Quero o figurativo assim como um pintor que só pintasse cores abstratas quisesse mostrar que o fazia por gosto, e não por não saber desenhar"

"Não é preciso acreditar em alguém ou em alguma coisa - basta acreditar"

"Que se há de fazer com a verdade de que todo mundo é um pouco triste e um pouco só"

"Só uma coisa eu sei: não preciso ter piedade de Deus. Ou preciso?"

"Só agora entendia que mulher nasce mulher desde o primeiro vagido. O destino de uma mulher é ser mulher."

"Basta descobrir a verdade que ela logo já não é mais: passou o momento. Pergunto: o que é? Resposta: não é."

"Mas que não se lamentem os mortos: eles sabem o que fazem"

"A morte é um encontro consigo"

"Não vos assusteis, morrer é um instante, passa logo."

"Só agora me lembrei que a gente morre. Mas - mas eu também?!"

"Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos. Sim."

Download:http://www.4shared.com/file/45178136/f8cc18b3/Clarice_Lispector_-_A_Hora_da_Estrela.html?

sábado, 19 de abril de 2008

"1984", de George Orwell


"1984", George Orwell.
Escrito em 1948, o autor inglês constrói uma sociedade totalitária, onde os cidadãos membros do Partido Interno são vigiados, controlados, seja em suas casas (vistos e ouvidos por "teletelas"), interpretados por cada gesto ou ato. Tudo gira em torno do Grande Irmão, chefe de governo imaginário ou real, que detém o poder sobre a vida e pensamento de todos.
O personagem principal, Winston Smith, começa a se questionar sobre o passado, as memórias reconstruídas e a verdade dos fatos que o rodeiam. Daí, o desenrolar da trama e suas conseqüencias.
O livro é como um nascimento, crescimento e morte, mataforicamente falando (ele é uma grande metáfora): o surgimento de uma idéia (dúvida), seu desenvolvimento, até um encontro com o desconhecido (amor, ou pelo menos o que ele julga ser amor), algo condenado, às escondidas, e o preço por pensar diferente do que é imposto pelo poder (crescimento). Enfim, a "morte", que é a "reeducação" política e mental do personagem principal.
A mídia pode ser lida nas entrelinhas, com seu poder sobre a mente e controle do que pode ou não ser pensado.
Frases do livro:
"O poder reside em infligir dor e humilhação. O poder está em se despedaçar os cérebros humanos e tornar a juntá-los da forma que se entender"
"Quem controla o passado, controla o futuro: quem controla o presente controla o passado. E no entanto passado, conquanto natureza alterável, nunca fora alterado. O que agora era verdade era verdade do sempre ao sempre. Era bem simples."
"...Essa era a sutileza derradeira: induzir conscientemente a inconsciência, e então, tornar-se inconsciente do ato de hipnose que se acabava de realizar."

"A leitura obrigatória é uma coisa tão absurda quanto se falar em felicidade obrigatória".
Jorge Luiz Borges