terça-feira, 23 de junho de 2009

"O guardião de memórias" - Kim Edwards

Quando guardamos apenas conosco marcas de nossas vidas, segredos não revelados, mentiras contadas como verdades, ou elas nos envenenam ou nos fecha para o mundo. Essa é a sensação que o livro nos deixa, ao deitarmos a última página e finalizarmos a leitura.
Quando David Henry, na realidade David Henry MacCallister, fez o parto dos filhos gêmeos e tomou a decisão de mandar a filha nascida com Síndrome de Down para que fosse entregue numa instituição para deficientes mentais logo após o parto da esposa, ficando com o menino, perfeito e sem problemas, dizendo à esposa que a filha era natimorta, guardou a verdade para si. Não sabia que lidar com a “morte” da filha seria tão ou mais penoso para a esposa que aprender a lidar com a excepcionalidade da criança. Carregar o peso de saber da filha viva, ter suas próprias razões para tomar a decisão e não compartilhar, tomado pela angústia de levar segredos e memórias, transformou-o em escravo de suas próprias memórias e culpas.
A dolorosa perda da filha recém-nascida e sequer vista na percepção da mãe, suas fugas na bebida e em casos extraconjugais; o silêncio como construção da personalidade do filho...
Lembranças que se tornam marcos, lamentos contidos, silêncio como resposta.
Em paralelo, o crescimento de Phoebe, a menina que foi criada longe dos pais e que, apesar de ser portadora da Síndrome de Down, levou adiante sua vida, contrariando as expectativas de Henry, que julgou não viver tanto e com saúde.
A luta da mãe adotiva para incluir a filha em instituições públicas, o universo excepcional da criança que se torna mulher, capaz de um amor e credulidade que conquistavam e fazer-se amada mais ainda.
Esses são alguns dos temas que encontramos no livro, uma novela que percorre a vida dos personagens de 1964 a 1989.
Bom livro.

Passagens:
"...desde o nascimento dos filhos - Paul (...) e Phoebe, de algum modo presente pela ausência, apareendo-lhe em sonhos, parada no limiar invisível de cada momento -, Norah já não conseguia entender o mundo do mesmo jeito. Sua perda lhe deixara uma sensação de desamparo, que ela combaia preenchendo os dias."

"- A fotografia tem tudo a ver com segredos (...).Os segredos que todos temos e nunca revelamos.
- A música não é assim. (...)A música é como tocar a pulsação do mundo. A música está sempre acontecendo. Às vezes a gente consegue tocá-la por um momento e, quando consegue, sabe que tudo está ligado a tudo."

"Não se pode deter o tempo. (...) Não de pode captar a luz. Tudo que a gente pode fazer é virar o rosto para cima e deixar a chuva cair."

Um comentário:

Razek Seravhat disse...

Uma outra novela muito boa que vale a pena conferir e que aborda temas completamente distintos dessa novela é Olhai os lírios do campo de Érico Veríssimo.

Obrigado pela dica.